sábado, 5 de fevereiro de 2011

RETRATO

Era domingo, penso. Já não consigo precisar com clareza. Ali estavas tu: esguio, magro também, a olhar fixamente para mim como se nos conhecêssemos desde sempre. Desde o dia em que nos deviamos ter conhecido. Era o nosso primeiro encontro, e a primeira coisa que me fez ter a certeza que eras tu aquele que esperava por mim, foi a tua pele extraordinariamente branca, mais que a minha até, e o teu cabelo dourado, claro. Aquele primeiro olhar deu-me calafrios.
De lonje conjecturei os teus olhos de um castanho-mel, doce. Quando te aproximaste de mim tremias imenso! Estavas rosado, muito, e provocaste em mim o mesmo efeito. Desde o primeiro minuto que os teus lábios tremelicavam, tal como as tuas mãos. A troca de olhares continuou e foi assim que me apercebi que os teus olhos de castanho não tinham nada! Eram verdes, do mais bonito verde que alguma vez vi, ou imaginei, e comecei a tremer.
Depois daquele primeiro dia, mantiveste-te o mesmo. Sempre o mesmo joão, simpático, carinhoso, passivo e compreensivo que aparentaste ser desde o primeiro dia. Sabes captar a minha atenção com o mais simples dos gestos, a mais simples das palavras, e o mais discreto dos olhares. Mas há uma coisa em ti que me irrita solenemente. És uma caixa fechada. Para o mundo e para mim. Não te interessas por política, não queres saber qual a capital do país «XPTO», só te interessa o aqui e agora, e tentas aproveitá-lo ao máximo. Mas às vezes dás-me vontade de chorar quando te fechas para mim. Sinto que tens medo da partilha e da confiança, que não confias em mim o suficiente. É a tua estranha forma de AMAR, e eu compreendo, porque eu também TE AMO e por vezes também o demonstro de uma forma estranha. A nossa própria relação é estranha. Invertida. O mais sensível emocionalmente és tu, e eu tenho tanto medo de te magoar! Sinceramente preferia que fosse eu a mais frágil, e talvez isso até seja um pouco egoísta da minha parte, mas como eu já ouvi dizer alguém: “magoar-me-ia mais magoar-te do que tu magoares-me a mim”.
Mas também me fazes chorar de alegria. Esse teu sorriso lindo faz despertar em mim uma inigualável serenidade. Todas as noites choro por ti e lamento não te ter naquele momento para te abraçar e dar-te um beijo de boa noite. Para me sentir segura, até.
Quero ficar contigo até não ter dentes e os meus cabelos serem brancos como a cal. Não, minto. Isso não é suficiente. Eu quero ficar contigo para sempre. Com aquele rapaz, daquele domingo no cinema.
E agora, ao escrever estas palavras, verto uma lágrima de alegria só por pensar em ti. E essa é a minha forma de TE AMAR.

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